terça-feira, agosto 30, 2011

Arquitetura, Urbanismo e Função

“Nenhuma grande cidade brasileira escapa a esse destino de exclusão, segregação e degradação ambiental”
(Ermínia Maricato)
“Diferente de uma cidade onde todos se encontram, acreditamos vivenciar um momento da atualidade onde as relações sociais são amplamente diferenciadas, extremamente direcionadas e recriadas, muitas vezes em novos conteúdos. (Cíntia P. Santos – Pós graduanda UNESP)
“O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem.” ( Deboard)
A muito a arquitetura se desligou da sua função de abrigo para se atrelar ao status, resultado do processo de valorização do capital levando à sociedade do consumo. Tanto que hoje vivemos numa casa “velha” que persiste desde o início do século XX. Mesmo que “nós” não sejamos mais o mesmo e tenhamos feito do quarto o escritório e sala de TV. E não precisemos de muitos dos espaços que ocupamos mantemos o espaço não por sua importância física, mas pela aparência que a grandiosidade projeta no próximo.
Tudo pode ser comprado, tudo pode ser vendido. Somos filhos de uma sociedade de privatizações. Os direitos estão escassos e se paga pela segurança, pelo espaço (não mais público) e se abdica do direito de ir e vir.
A cidade é o espaço para a disputa de classes pela propriedade, poder político e poder econômico. Onde prevalece a lógica da mercadoria.
Uma, pseudo, coletividade camufla conjuntos isolados em que boa parte não faz questão de deixar de ser isolado.
Queremos ser a “família Doriana” (estereótipo de como toda família perfeita deve ser). E é isso que é vendido e não o “abrigo”.
O consumo está tão atrelado à arquitetura que muitas vezes o Marketing custa mais que um projeto. Numa lógica racionalista de baixo custo e qualidade em grande quantidade como vemos em vários prédios de qualidade estética duvidosa.
Mas o produto arquitetura tem a melhor “marca” que é um modelo que vende o combo: casa + segurança + ”total living environment”+ sauna + quadra.... Uma idealização mítica.
A especificidade desta segregação se pauta no fato que o “enclausuramento” é voluntário e há recursos a barreiras físico-arquitetônicas.
“o fato de os condomínios fechados constituírem um produto imobiliário que, no contexto da globalização, pode chegar a qualquer parte do mundo. De fato, deve notar-se a importância da atual disponibilidade global de uma fórmula comercial passível de ser localizada pelo mundo a fora, mesmo que de diferentes formas” (Rita Raposo)
Essa arquitetura enlatada relata a fraqueza do estado perante uma sociedade privada. Que pode oferecer muito mais que o “poder” publico.
Como pode ser notado na região metropolitana sul de Belo Horizonte. Os condomínios horizontais fechados acabam por valorizar a região. O que leva a elevar o custo das mercadorias e encarecer os bairros mais próximos, mesmo que este não tenha nenhum atrativo em si. Em bairros como Belvedere chega a estratégias para contornar a lei e erguer edifícios com andares bem além dos estabelecidos. Mesmo que essas medidas tenham causado dados climáticos para toda uma população.
Talvez o urbanismo como “instrumento de regulamentação e administração do especo construído” tenha seus favoritos.
Qualquer estudante medíocre de arquitetura tem consciência que o espaço melhor para criar e no plano, que em um grande terreno plano se poderá aproveitar muito melhor suas áreas de lazer, mas aqui o status de zona sul se sobrepõe tanto a lógica que se opta por construir em terrenos que além de muito íngremes têm um solo que oferece riscos a construção.
A alienação é tanta que hoje pessoas se chocam ao verem imagens da pobreza na África, sendo que a pobreza mora ao lado, porem por aqui os muros tampam.
“...interpretação sociológica possível: a primeira respeita ao tema da segregação; a segunda refere-se à componente simbólica da produção, comercialização e consumo de condomínios fechados. Em conjunto, os dois elementos que estas teses destacam conferem ao fenômeno um caráter socialmente distintivo, específico e singular . Ambos respeitam à separação ou à instituição da distância em relação a realidade social “externa”, uma realidade que não respeita apenas a outros grupos sociais, mas que é mais vasta,e que é tanto objetiva como subjetiva. Os condomínios fechados, com uma forma espacial e física separada, clausurada e introvertida, uma população “nivelada” pelo rendimento, e a construção simbólica de um novo habitat, trazem a instituição espacial de várias distâncias sociais - práticas simbólicas."

ENTREGA 30/08

1ª questão
a) b) Apresentar resumos, resenhas, comentários e links do seu material de estudo do tema, juntamente com  a bibliografia (de livros e revistas) e a filmografia (filmes documentários e links) relativo ao tema estudado
Links externos:
CONDOMÍNIOS:

NOVA LIMA:


c) Montar uma base cartográfica para o tema em estudo


2ª questão
Escrever três páginas mostrando qual conteúdo dos textos estudados se relacionam ao seu Trabalho (textos de F. CHOAY, Guido ZUCCONI e M. S. Braseriani)

3ª questão
Fazer a análise de uma situação urbana mundial contemporânea. [OS CONFLITOS DE RUA EM LONDRES em agosto 2011] e compará-las aos capítulos do texto de M.S BRESCIANI, no livro estudado em sala, “Londres e Paris no séc XIX, o espetáculo da pobreza”.

QUESTÃO 1 c) - BASE CARTOGRÁFICA : Nova Lima

Nova Lima inserida na Região Metropolitana de Belo Horizonte


 http://www.novalimaecondominios.com.br/mapas/mapa-dos-condominios/



http://causomineiro.wordpress.com/fotosemapa/nova-lima-hoje-e-ontem/

QUESTÃO 1 - A situação de Nova Lima

Na imagem a região centro sul de Bh, a Serra do Curral como divisor, e ao fundo Nova Lima


Nova Lima, desde a década de 50, começa a moldar seu padrão com a criação de condomínios horizontais para as classes média a alta. Neste período as casas ofertadas eram, em sua maioria, para segunda residência, com o discurso de manter contato com a natureza, tendência que permanece até os anos 80. Vale lembrar que a região ainda era totalmente dependente do centro urbano, principalmente na questão comercial.
Nos anos 90, o setor imobiliário muda um pouco esse discurso, acrescentando a segurança e a autosuficiência como atrativo. Um anúncio publicado no Jornal Estado de Minas, em 25/09/2002 mostra isso claramente, a reportagem tem o título “Em busca de uma casa no campo”

“ [...]proporcionem aos [futuros] moradores os principais benefícios de
morar no interior sem abrir mão das vantagens oferecidas pela cidade
grande” ou, como conclui o mesmo artigo, “[...] a volta ao contato com a
natureza e a possibilidade de desfrutar do progresso da civilização”. 

Isso mostra o novo conceito de moradia e a maneira como o mercado imobiliário faz para atrair os novos moradores dessas áreas, os aspectos que não existem mais nas grandes cidades, estão presentes nos condomínios horizontais. Acaba que dissemina uma cultura da moradia essencialmente anti-urbana, alimentada simultaneamente pelo sonho do retorno a natureza e pela ilusão da segurança nos condomínios fechados, é auto-segregação que vemos hoje da classe média a alta na ocupação do vetor sul.
A proliferação de condomínios fechados marca o território municipal, particularmente ao longo do eixo das rodovias que atravessam seu território. Os condomínios indicam, segundo Luciana Andrade, mudanças nas relações espaciais e na determinação dos espaços públicos em seu interior, com a crescente perda da cidade como o espaço da convivência e da sociabilidade, essa tendência de fragmentação da cidade pode causar, no futuro, a falta de articulação urbana e de controle sobre a ocupação do solo.
Não só a questão urbana e social que se discute com o crescimento do Eixo Sul, o fator ambiental também está em pauta. O setor minerador se mostrou contra a criação da APA Sul (1981), exatamente já visando a crescente demanda de condomínios na região.




“Em Nova Lima, embora exista uma prática já consolidada de análise ambiental dos parcelamentos do solo , um discurso  dos agentes políticos voltados para a proteção de seu rico patrimônio ambiental e uma importante ação de mobilização social em torno da proteção do seu rico patrimônio ambiental,  as decisões relativas a aprovação de loteamentos não consideram as análises ambientais que indicam a fragilidade de seu meio físico, nem os custos elevados de sua implantação, que tem reflexos na elevação dos preços dos lotes oferecidos no mercado. No âmbito da política urbana,  a aprovação de loteamentos não considera que o município de Nova Lima possui cerca de 50% dos lotes produzidos a partir da década de 70 desocupados, segundo dados da Prefeitura de Nova Lima. De acordo com informações obtidas na Prefeitura, o interesse do município é manter a produção de lotes nos patamares atuais , destinados a população de renda média e alta com vistas a assegurar o crescimento da arrecadação municipal por meio do IPTU.”
A atuação dos conselhos de meio ambiente tem sido dificultada, exatamente por ter interesses contrários aos da Prefeitura, que parece se importar só com a receita.

Tese: “Expansão urbana e proteção ambiental: um estudo a partir do caso de Nova Lima /MG”, Monica Campolina Diniz Peixoto (Programa de Pós graduação do IGC/UFMG, Mestrado em Geografia) – O município de Nova Lima no contexto metropolitano e ambiental

Agora é a vez do pedestre


Na folha de São Paulo do dia 29/08/11, Alexandros Washburn (arquiteto e diretor de desenho urbano da Prefeitura de Nova York, e responsável pelo projeto High Line) diz que “Caminhar é a atividade mais importante nas cidades”. E que “agora é a vez do pedestre”.
Essa questão está muito arraigada na cultura mundial das grandes metrópoles, pois há 50 anos os carros estão em primeiro lugar quando o assunto é urbanização e cidades.
Segundo Washburn, priorizar o pedestre nas grandes cidades é uma decisão política fundamental e um projeto a ser definido e implantado a longo prazo. Nenhuma idéia ou transferência deve ser precipitada, é necessário conhecer, envolver, entender e compartilhar opiniões com as comunidades vizinhas, para daí transformar em lei. Assim como, a integração entre política, econômia e projetos devem se equilibrar.
Ele critíca o modelo de urbanização de SP com prédios recuados e grandes muros sem conexão com o entorno. Para Washburn é necessário e importante sentir a cidade e os espaços públicos, para que possamos perceber os contrastes. Prédios altos sim, mas eles devem absorver a rua, é desnudar o edifício para que os pedestres se sintam como parte do lugar, é abrir o prédio para os que ali passam.
Se apropriar da cidade é essencial, e após a revitalização que Nova York sofreu, músicas (Alícia Keys e Frank Sinatra) foram feitas para expressar o quanto é bom caminhar em suas ruas.

QUESTÃO 2 - Modelos Urbanos

Houve na Europa a partir do séc. XVIII, com a Revolução Industrial, um grande deslocamento da população rural para as cidades que não tinham estrutura para recebê-los. Como isso as pessoas passaram a morar em cortiços ou nas ruas em situações desumanas.
A partir do caos instalado nas cidades, surgiu a necessidade de se resolver toda a situação com um planejamento ideal das cidades, instaurando-se o urbanismo moderno. Segundo Françoise Choay, três correntes prevaleceram.
Neste momento um dos princípios ideológicos trabalhado foi o modelo culturista, onde o que prevalecia era o todo e não as parte. Desta forma o homem era visto e percebido em grupo e não como um ser único, com regras e limites sendo considerados e observados para daí se pensar a criação das cidades.


No planejamento das cidades na época, tinham a rua e a quantidade de pessoas/famílias bem definidas para ocupação do espaço urbano a ser criado. O conforto do ser humano como o vento e sol eram levados em conta, assim como a topografia de cada região. Neste modelo a simetria não era um valorizante mas sim uma expressão orgânica de tudo o que se queria dizer.
A corrente progressista é a que mais se destaca, e vem defender e propor uma cidade funcional e geométrica, uma cidade espetáculo com foco na modernidade, onde os padrões estéticos de beleza do passado, são negados. Se preocupam em definir regiões residenciais, industriais e comerciais, onde o homem é tratado como um ser padronizado.
O outro modelo é o naturalista que vem negar o progresso e a tecnologia, e exaltar a natureza.

“ A estética é um imperativo tão importante quanto a eficácia para esses urbanistas-arquitetos a quem a tradição européia deu, em alto grau, uma formação de artistas. Mas conforme, a seu modernismo, rejeitam qualquer sentimentalismo com respeito ao legado estético do passado.” (CHOAY, 1979, pág. 23)

A cidade ao longo dos tempo sempre foi o lugar da apropriação e da possibilidade de sensações ilimitadas e subjetivas. Alguns concordavam ou discordavam do modelo regido para a cidade mas cada um tinha sua percepção, mesmo que fosse de indiferença.

Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que muitas civilizações, ou épocas culturais - talvez até a humanidade inteira - se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?

“Os projetistas do Novo Urbanismo, ou Urbanismo Sustentável, estão a favor de
comunidades pequenas e densas, com limites definidos e onde exista uma adequada
mescla de funções que incorporem espaços de recreação, comerciais, institucionais e de
serviço, em estreita vinculação com residências de vários tipos. As viagens para fora da
vizinhança são minimizadas, reduzindo a dependência do carro e a contaminação e o
consumo de energia que esta gera. As distâncias de um lugar a outro poderiam ser
percorridas a pé, e se podia chegar caminhando até às estações de transporte público
(ônibus, trens, metrôs e outros, segundo o caso), que conectem com outras comunidades
similares. Todas estas características propiciariam o caráter único do lugar e a sensação
de pertencimento à comunidade do grupo de habitantes que ali convivem”.
(IRAZÁBAL, 2006)

Com o novo urbanismo houve não só a expansão urbana como a valorização e status dos meios de transportes, alterando toda dinâmica de estruturação e apropriação do espaço urbano.
“Defende que o agrupamento urbano seja visto não mais a partir da idéia do progresso, mas da cultura e, ideologicamente, opondo-se ao industrialismo e à definição de necessidades-tipo para um homem-tipo imaginário.”
(CHOAY, 2003).

QUESTÃO 1 - CONDOMÍNIOS FECHADOS: Nova Lima e Orlando

CONDOMÍNIOS FECHADO: Conjunto residencial, geralmente cercado e com acesso controlado, dotado de equipamentos comunitários, e cujos moradores dividem diversas despesas com pessoal, manutenção, ... (Aurélio - 7ª edição).

No Brasil o plano de Cidade Jardim teve início na década de 20 em São Paulo, na zona hoje denominada de Região dos Jardins. Foram contratados franceses e ingleses para projetar, uma ideologia pela busca do embelezamento da cidade.
Os condomínios horizontais apesar de tradicionais e antigos são proibidos em algumas regiões do Brasil e do mundo.
Em Belo Horizonte, a lei de uso e ocupação do solo não autoriza ou não permite este tipo de moradia, já em Nova Lima eles são muito bem vindos.
Países como a Argentina, Brasil, China, Filipinas, Tailândia, Estados Unidos e México, por exemplo, possuem muitos condomínios horizontais que se expandiram principalmente entre as décadas de 60 e 90.
Na Austália, Europa e Oceania condomínios fechados são raros e no Canadá estes parcelamentos são proibidos.
No Brasil condomínios tinham estigma de cortiço na década de 30 e foram proibidos durante muito tempo.
Os condomínios fechados normalmente são murados ou cercados, possuem acesso restrito e controlado de veículos e pessoas, e são compostos por edifícios ou poucas ruas.
Uma das maiores críticas com relação a condomínios residenciais horizontais é porque eles são dotados de tanta infra-estrutura, que possibilita aos moradores um confinamento e alienação social. Possuem propostas atraentes de qualidade de vida, status/prestígio, segurança e lazer.

Quadro abaixo apresenta as diferenças dos condomínio horizontais e verticais entre as décadas de 70 e 90:

"Cidade é um lugar onde as pessoas ficam sozinhas juntas."
(Herbert Prochnow)

Quadro comparativo de preços/m²:




Exemplo de Condomínio na região metropolitana de Belo Horizonte:

Condomínio Vale dos Cristais – Nova Lima/MG








Exemplo de Condomínio na região de Orlando/ Flórida:

Condomínio Canyon Ranch – Orlando/FL






 

segunda-feira, agosto 29, 2011

QUESTÃO 1 - Ricos fogem das metrópoles


Uma expansão periférica de natureza diferente está em curso no entorno da Serra do Curral, uma das áreas mais valorizadas de Belo Horizonte. Ela vem sendo empreendida por uma população de alta renda em busca da segurança e do convívio com a natureza que a metrópole já não mais proporciona.

Esse movimento é analisado no livro Novas periferias metropolitanas – a expansão metropolitana em Belo Horizonte: dinâmica e especificidades no Eixo Sul, escrito por professores da UFMG e publicado pela Editora C/Arte. Em entrevista ao BOLETIM, a organizadora do livro, professora Heloísa Soares de Moura Costa, diz que essa fuga patrocinada pelas elites pode comprometer a vitalidade dos centros urbanos: “Do ponto de visto urbano, todos perdem, porque a cidade vai ficando cada vez mais estratificada”. 

Que elementos concorrem para a expansão periférica por grupos de alta renda? 

A região Sul de Belo Horizonte já apresenta, há algum tempo, a tendência de ser ocupada por uma população mais elitizada e ligada aos bairros mais ricos da capital. De certo modo, essa expansão periférica é uma continuidade desse processo. Trata-se de uma área importante do ponto de vista paisagístico e ambiental e que transpõe os contornos da Serra do Curral. O fato de ser uma Área de Preservação Ambiental (APA) agrega valor, por se tratar de uma região muito bonita e desejada. É também uma área de importantes recursos hídricos, uma das “caixas d´água” da região metropolitana e que, por isso, não pode ter uma ocupação de alta densidade. Essa situação já estava prevista desde o final dos anos 70, por ocasião do planejamento metropolitano, proposto pelo Planbel, o que ajudou a proteger a região de uma urbanização muito intensa. Assim, ela se valorizou e se elitizou. 
Outro ingrediente fundamental pra entender essa dinâmica é o fato de as mineradoras terem, durante décadas, comprado muitas terras para garantir o acesso ao subsolo.

Vivemos então um processo de formação de uma “periferia dos ricos”?

Em geral, o termo periferia é associado a áreas mais populares. Criou-se um estigma e, para também combatê-lo, chamamos de periferia essa expansão promovida por uma população de alta renda em áreas de preservação ambiental e, ao mesmo tempo, exploradas por atividades econômicas degradantes, como a mineração. 
Em que medida esse processo de distanciamento dos ricos em relação ao núcleo central da cidade compromete o seu vínculo com a pólis e com a própria noção de unidade que ela enseja?

Essa idéia da cidade como unidade é interessante, mas deve ser vista com cuidado. A cidade é formada por partes estanques e que, muitas vezes, não conversam entre si. Temos favelas no interior de áreas extremamente valorizadas. E, no caso particular de Belo Horizonte, um elemento pertubador está no fato de que existe um movimento de expansão por meio de grupos de média e alta renda e não há lugar nessa expansão para alojar todo um exército de pessoas que, inclusive, trabalha para essa população rica. Na APA-Sul, existe apenas um bairro, o Jardim Canadá, que é o único parecido com uma cidade tradicional. Lá existe botequim de esquina, mercearia, casa de consertos de bicicletas, enfim, uma pluralidade que outros bairros da região não têm. 

O que a cidade perde ao ser abandonada por sua elite?

O que ocorre nesse fenômeno é que o encontro com o outro deixou de ser uma oportunidade de aprendizado para transformar-se numa ameaça. E isso, em termos urbanos, é péssimo para a vitalidade da cidade, do centrão e dos seus subcentros. A nossa idéia de estudar o eixo sul foi exatamente para tentar mostrar que, por um lado, isso pode ser muito bom e agradável para indivíduos e famílias que se refugiam nessas áreas afastadas. Mas, do ponto de vista urbano, todos perdem, porque a cidade vai ficando cada vez mais estratificada.

Contrapondo-se a esse desprestígio das cidades, que se vêem abandonadas pela sua população mais abastada, observa-se a existência de movimentos de revitalização dos centros urbanos. Isso não é um paradoxo? 

Essa é uma questão importantíssima. Precisamos planejar as cidades no âmbito metropolitano, porque as iniciativas atuais são de caráter municipal. O planejamento de Belo Horizonte, por exemplo, pára na divisa com Nova Lima. Mas o espaço urbano tem continuidade, ele não termina na fronteira dos municípios. Outra necessidade é pensar as áreas construídas e as não-construídas. Planejamento urbano e ambiental precisam andar juntos.

Já existe alguma legislação que contemple essa questão?

Na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, tramita uma proposta de reordenamento institucional metropolitano. Mas a discussão ainda está restrita ao universo parlamentar e não se abriu para a sociedade civil dos municípios. Ainda não há um debate mais adequado até para avaliar se essa é mesmo a forma mais apropriada de gestão urbana. 

A senhora acha possível conciliar uma política de loteamento com o respeito ao meio ambiente e com o interesse público?

Não acho que qualquer ocupação seja necessariamente agressiva. Muitos dos loteamentos na região foram planejados, nos anos 60 e 70, de uma forma bastante cuidadosa em termos ambientais. Por outro lado, muitos dos parcelamentos atuais não observam cuidados com os parâmetros básicos. Alguns têm a vegetação removida ou são feitos em áreas propícias a deslizes. E muitas pessoas constroem nesses terrenos como se estivessem dentro da cidade. Tiram a cobertura vegetal, ocupam o lote inteiro, impermeabilizam o terreno e os cercam com muros altos e grades. Esta é uma tendência de alguns loteamentos mais novos e que é incompatível com a idéia de viver em harmonia com a natureza, característica dos loteamentos mais antigos. O fenômeno de hoje é fruto de um desejo que mistura fuga dos problemas urbanos com uma aproximação da natureza. Só que essa proximidade deixou de ser um valor e virou um produto.

Entrevista retirada do Boletim da UFMG (Nº 1526 - Ano 32  - 13.04.2006)
http://www.ufmg.br/boletim/bol1526/quinta.shtml

QUASTÃO 3 - Os atuais conflitos de Londres


A atual revolta na Inglaterra (agosto de 2011) foi causada inicialmente pela morte de um homem chamado Mark Duggan, de 29 anos no bairro de Tottenham. Ele foi morto por policias que alegam que ele era um traficante de drogas e que ele reagiu a tiros à aproximação. Cerca de 300 manifestantes se reuniram para protestar contra a morte de Duggan. Mais tarde, o protesto ficou violento, com membros da comunidade entrando em choque com a polícia. 
Muitos sociólogos afirmam que a morte desse homem foi a gota d’água para o início do tumulto, pois a economia da Europa passa por um período difícil, o governo britânico está fazendo cortes em programas sociais para jovens de comunidades carentes, fechando serviços considerados não essenciais, alto índice de desemprego. Na opinião dos críticos, o plano de austeridade do Reino Unido está sacrificando vários setores da sociedade, o que amplia o sentimento de frustração e acaba servindo de gatilho para essas ações violentas. 
Por outro lado, alguns analistas parecem concordar com a postura do governo inglês, com a leitura de que não há conteúdo político por trás dessa revolta. “Podem existir causas políticas e econômicas, mas não é possível dizer que se trata de uma revolta política”, diz Carina O’Reilly, analista de segurança européia da IHS Jane’s. “São ações criminosas. Você tem pessoas jovens (em alguns casos, muito jovens) que estão revoltadas e vivem na pobreza, e que parecem ter descoberto que podem fazer essas coisas e escapar de punição”.
Conversando com um amigo francês sobre esses acontecimentos na Inglaterra e ele se diz que muitos desses manifestantes nem sabem o porquê de estarem ali, querem apenas participar do tumulto. Ele questiona o local dessa revolta, que aconteceu em uma área pobre da cidade. Eles queimaram carros, prédios, saquearam lojas; se o real motivo do protesto é a insatisfação com o governo, porque a área de atuação não é aos redores dos prédios governamentais ou nas áreas ricas da cidade?
Já, pelo lado dos manifestantes, um dos participantes dos distúrbios, entrevistado por uma rede britânica de TV, garantiu que as ações violentas eram necessárias. “Se não estivéssemos fazendo uma revolta, vocês não estariam aqui me ouvindo, não é? Dois meses atrás, nós marchamos até a Scotland Yard, mais de duas mil pessoas, todas vestidas de preto, tudo calmo e pacífico e quer saber? Nem uma palavra na imprensa. Na noite passada, bastou um pouco de revolta e saques, e agora olhem ao seu redor”.
“Na base de todos esses incidentes, há um sentimento de descontentamento profundo, em especial entre os mais jovens”, reforça Louise Taggart, analista de conjuntura europeia da agência britânica de consultoria AKE. “São os jovens quem têm a energia para ir às ruas e se revoltar, não apenas no Reino Unido, mas em todo o mundo. Se as autoridades não encararem os problemas por trás de tudo que está acontecendo, temo que estejamos prestes a ver muito mais”.

“o inferno é uma cidade semelhante a Londres, uma cidade esfumaçada e populosa.
Existe aí todo tipo de pessoas arruinadas e pouca diversa, ou melhor, nenhuma,
e muito pouca justiça e menos ainda compaixão”.
Londres e Paris no Século XIX. Pág. 22

Em seu livro Londres e Paris no Século XIX, Maria Stella detalha muito prontamente o lugar e a vida das comunidades que ali viviam. Hoje ao atentarmos para os acontecimentos é possível percebermos que mesmo com o passar dos anos os conflitos se mantêm como uma panela de pressão.
A contradição social é muito grande e vem se alongando desde 1840/60. Áreas ricas com suas mansões e madames num eterno desfile se entrecruzam com as áreas pobres onde se concentravam as classes operárias. Lugar este de más condições de moradias e infra-estrutura, com superpopulação.
Em 1860 rapazes de 16 a 19 anos e pouco desenvolvido, furiosos e improdutivos s se diziam discriminados, dinâmica dispendiosa e perigosa para a noção, também como o ocorrido na década de 80 e em 08/08/11.
A opressão e a omissão muitas vezes geram reações inimagináveis. Londres é uma cidade que “cheira velhice”, a velha cidade, as antigas arquiteturas, ... É o lugar onde os jovens se deparam com um script, quase uma cartilha dizendo o que ele será, o que ele fará, o que acontecerá em sua vida. Eles são verdadeiros solitários na multidão.

“Viver numa grande cidade implica o reconhecimento de múltiplos sinais”
Bresciani, Maria Stella. Pág. 16

QUESTÃO 1 - Um Padrão de Urbanização Segregador


“A cidade não é apenas um objeto ou um instrumento, o meio de realizar certas funções vitais; é também um quadro de relações interconscienciais, o lugar de uma atividade que consome sistemas de signos tão complexos... “
“Quanto os habitantes, sua primeira tarefa é a lucidez. Não deve nem deixar-se seduzir pelas pretensões científicas do urbanismo atual, nem alienar suas liberdades nas realizações deste. Deve resguardar-se tanto da ilusão progressista quanto da nostalgia culturalista.”
“É preciso parar de repetir fórmulas fixas que transformam o discurso em objeto, para definir sistemas de relações, criar estruturas flexíveis, uma pré-sintaxe aberta a significados ainda não constituídos.”
( O Urbanismo - Choay, Françoise)

“O objetivo do urbanista deve ser o de criar entre a cidade e o campo um contato cada vez mais estreito.” (Le Corbusier)

Relacionando a história da cidade com a história do trabalho e o surgimento do urbanismo no século XIX, mesmo antes de sua aceitação como uma ciência. Passando pela revolução industrial que é o grande impulso ao crescimento demográfico. Já no inicio do século Londres, por exemplo, perde o contorno especifico efeito da implantação de industrias no em torno, levando a classe média e operaria a deslocar-se para os subúrbios. Tornando os limites da cidade pouco delimitados. Esse mesmo fenômeno pode ser identificado no mundo. Mas expressivamente após o efeito da globalização, onde modelos urbanísticos foram copiados para o mundo.
O urbanismo se difere do pré-urbanismo pela consciência da existência dessa ciência, por tentar acoplar a teoria a prática
Le Corbusier afima: “O urbanista não é outra coisa se não arquiteto.” Assim como o arquiteto não pode controlar a forma de viver do morador de sua obra, o urbanista não pode controlar a vida da cidade. O arquiteto tem q abdicar da posição de “Deus” e admitir sua posição de co-criador do Espaço.
Carta de Atenas é a cara dos Urbanistas Progressistas. Na tentativa de priorizar as necessidades humanas universais: Habitar, trabalhar, locomover e cultivar o corpo e espírito. Com essa definição de um homem tipo tenta criar formas universais.
Essa racionalização leva a um modelo universal de cidade copiado para todo o mundo. Assim também é copiado a valorização dos edifícios e unidades autônomas.
Com a inserção do Brasil no processo de globalização, a partir de meados dos anos 1980, exacerbou as desigualdades sociais já existentes. Conurbação, alta densidade de certas áreas em detrimento a outras surge a necessidade de leis e zoneamentos para conter o adensamento desvairado, que não deixa de ser agentes da segregação, pois tentam agrupar grupos de mesma classe. Se a cidade é o Espaço das trocas, se essa relação é limitada a uma mesma classe social pode ainda assim ser chamada de cidade?
Levando essa análise ao nosso tema. Os condomínios não são nada além de filhos tortos de uma idealização do que seria viver bem. Apesar das raízes dos atuais condomínios fechados ter sua origem nos ideais da cidade jardim. “Howard, um utopista di século XX, que acreditava na possibilidade de planejamento de comunidades balanceadas com mistura de classes sociais, desenvolvimento econômico, sistemas de cooperativismo e bem estar social, atrelado ao desenho da paisagem.” (Liza Maria Souza de Andrade)
Somente sua origem se baseia nessa idealização, pois a formação atual dos condomínios tem causas bem mais individualistas. Como a busca por segurança, por uma qualidade de vida próxima a natureza, além do status que esse tipo de moradia proporciona. Nosso padrão de urbanização é segregador. Essa expansão significativa de um modelo residencial em “quase bairros” fechados cercados de aparatos de segurança, e envoltos numa idealização mítica do urbano envolve, sobretudo, camadas médias e altas da população. Viola inclusive o direito de ir e vir. O direito de circular esta restritos por muros, cercas e portarias de identificação o anonimato do Flamboyant esta vetado. E a idealização de Deriva dos situacionistas esta suspensa. E a superioridade do automóvel é irrefutável. Há inversão do modelo centro para o rico e periferia para o pobre, pois a acessibilidade do cidadão não é mais critério, as vias são pensadas para os automóveis. O pedestre tem seus lugares de caminhada, que não chegam a lugar algum, delimitados.

domingo, agosto 28, 2011

QUESTÃO 2 - Do Urbanismo de Choay às Cidades Jardins

Levando-se em consideração o texto de Choay e a dissertação de Dacanal, percebe-se nesse momento da história das cidades, que utopistas e filósofos sociais idealizaram “modelos” urbanos reprodutíveis; o modelo progressista, cujos representantes são Owen,Fourier, Richardson, Cabet e Proudhon, que trata o homem como um “tipo, independente de todas as contingências e diferenças de lugar e tempo”, determinando uma “ordem-tipo, suscetível de aplicar-se a qualquer agrupamento humano”, afirma Choay.
Socialista ao extremo, no limiar do século XIX, para Owen o meio físico e social determinam o homem, em 1797 assumiu a presidência de Lanark, onde fez uma reforma, construindo casas, ruas, escolas, reduziu a jornada de trabalho, ou seja em contradição com seu colegas empresários acreditava que o melhor investimento deveria ser feito com seus empregados, Owen melhorou as condições de trabalho e vida de cerca de 1200 pessoas na época.

Vila Operaria – Robert Owen

Já Fourier, segundo o mesmo autor, idealiza o Falanstério, uma pequena cidade, possuindo um centro destinado às funções públicas. Este deveria se estabelecer próximo de um curso d’água e de uma mata, também perto de uma grande cidade, mas longe o suficiente para evitar seus infortúnios. Os veículos atravessariam o Falanstério ao nível do terreno, e os pedestres circulariam em galerias no primeiro pavimento. Fourier pretendia restabelecer a vida social, que considera caótica nas cidades da época, limitando também o direito da propriedade privada.

Falanstério/ Falanges – Charles Fourier – 1843



Segundo Guido ZUCCONI, a cidade do século XIX, são inúmeras as expressões como pode ser definida: de “cidade da revolução industrial” a “cidade da época da expansão”, de “cidade do progresso técnico” a “cidade do ciclo haussmaniano” sendo todas estas expressões o que marcou a época.
O século XIX contribuiu radicalmente com as paisagens naturais, sendo essas as estações ferroviárias e os estabelecimentos industriais, as galerias comerciais e as lojas de departamento, os bairros de edificação pública e as orlas marítimas.


Foi uma época marcada pelo rápido desenvolvimento tanto quantitativo e qualitativo. Mas podemos observar também que o rápido crescimento das grandes metrópoles se distribui de maneira desigual, favorecendo o crescimento de centros urbanos em detrimento do campo. O que foi visto de maneira negativa, pois sem querer o camponês foi absorvido. Fazendo com que aglomeração humana, promiscuidade, falta de condições higiênicas aceitáveis, degradação material e moral fizessem parte da característica desse “ inferno recente” como cita o autor.

O extraordinário processo de crescimento do século XIX e concentração urbana são atribuídos à revolução industrial. “ na origem de tudo existe, portanto, uma série de elementos racionais, situados irregularmente no território: existem pontos de particular acúmulo que dispõem de capacidades, conhecimentos e inteligências em condições de atrair recursos financeiros, investimentos na origem do ciclo industrial. As mesmas razoes atraem fluxos de população da área circunstante, ambas oferecendo reserva de mão-de-obra e potencial mercado. Inicia-se, dessa maneira, um autentico circulo virtuoso que, por sua vez, esta na origem de um ciclo expansivo”.

como diz o autor, os maiores centro urbanos, nascem do nada e seu rápido crescimento é devidamente industrial. Todos esses motivos fazem com que a tipologia urbana começa a tomar novos rumos, fazendo parte da geografia do desenvolvimento, criando uma série de imagens ligadas a noção de luxo.
Portanto o século XIX corresponde à fase de transição entre um antigo regime, marcados por delimitações férreas, e a plena atuação do princípio segundo homens e produtos podem circular livremente.

A partir desse momento surge então o modelo culturalista, no qual Choay afirma centrar-se na problemática do agrupamento humano, no qual o indivíduo possui “suas particularidades e sua originalidade própria, cada membro da comunidade constitui, pelo contrário, um elemento insubstituível nela”. Nesse modelo se encontra a concepção de cidade-jardim idealizada por Ebenezer Howard..(1898), que defendia o antiurbanismo, desocupando o centro como morada. Segundo Choay, Howard defendia uma reforma na qual a moradia seria no campo e vida ativa na cidade. Para ele a solição para o capitalismo opressivo seria a democracia e a organização cooperativa. O conceito plano urbano, rodeado por um cinturão verde, buscava nas formas orgânicas e na baixa densidade de áreas construir uma nova paisagem, totalmente diversa das cidades industriais.

 Mais do que a forma, Howard tinha uma preocupação social, propondo melhorar a
vida dos encortiçados e controlar o crescimento das grandes cidades britânicas.
O modelo da cidade ideal inspirou urbanistas na criação de bairros e subúrbios jardins
e atualmente na concepção de muitos condomínios residenciais, com a diferença de não
relevarem a proposta social de Howard, na qual todas as classes poderiam adquirir seu lote
suburbano com igual qualidade de vida.

Em 1903 Unwin e Barry Parker projetaram Letchworth, a
primeira cidade-jardim construída, com uma área de 1.250 acres que comportaria 30.000
habitantes, com mais 2.500 acres reservados para agricultura. No entanto, Letchworth foi
baseada em investimentos e negócios e não em teorias utópicas e cooperativismo social como
sugeriu Howard.

Letchworth
                                                                          Letchworth

QUESTÃO 1 c) - BASE CARTOGRÁFICA : CONDOMÍNIOS


Como base cartográfica para o tema em estudo utilizamos uma dissertação cujo o tema principal é Condomínios Fechados, de Cristiani Dacanal, com o título; ACESSO RESTRITO: Reflexões sobre a Qualidade Ambiental Percebida por Habitantes de Condomínios Horizontais.
Para chegarmos ao tema de fato nos apoiamos à compreensão do desejo humano do habitar territórios protegidos, espaços claros, vistos como paraísos terrestres. O ponto de partida é correlacionar os ideiais ambientais das cidades desde a antiguidade de forma a que possa-se entender as reais influencias das cidades jardins que atualmente são condomínios fechados, segundo a autora.


Antiguidade


Traçado regular da cidade hipodâmica de Mileto, séc. V a.C.

Na Antiguidade havia um ordenamento geométrico do plano urbano e a valorização dos edifícios e espaços públicos, tratados como principais referenciais da paisagem urbana, que opunha-se à natureza selvagem, desconhecida. Havia proteção territorial pelo cercamento da cidade. O espaço habitacional não era valorizado. A orientação pelos eixos cardeais também sugere a busca da sacralidade.


Idade Média


Sienna (séc. XVI) e planta da praça

Na Idade Média a ordem geométrica deixa de ser prioridade, preferindo-se o traçado urbano orgânico, que pode ser tanto devido à expansão urbana gradativa e ao acaso como também dado a um valor estético pelo pitoresco. A cidade permanece delimitada, pela muralha e pelo fosso, que tem a função de defesa territorial. Valoriza-se a rua como lugar de convivência e trocas comerciais. Valoriza-se o público e o religioso – a praça, o mercado, a igreja – mas há um descaso com a qualidade habitacional e com a salubridade da cidade.


Renascimento

Sforzinda, idealizada por Filarete (1457-1464) e A cidade descrita por Vitruvio: descoberta dos escritos em 1412, publicação em 1521

- no Industrialismo percebe-se as problemáticas ambientais urbanas causadas pelo crescimento demasiado das cidades e da própria indústria. Como reação idealizam-se cidades que melhorariam a qualidade ambiental e de vida dos habitantes. Valoriza-se a natureza, que passa a ser sagrada, enquanto a grande cidade passa a ser percebida como profana. Procura-se a melhor posição dos edifícios em relação à topografia, ventos, e insolação. A técnica permite a reprodução de formas e idealizam-se “cidades-modelo”,
ou seja, reprodutíveis. Há uma divisão funcional do plano urbano – local para o trabalho, para o lazer e para a habitação, visando-se o conforto e a qualidade de vida do Homem. Assim, passa-se a valorizar o espaço habitacional. Não há mais o cercamento da cidade.


Modernismo


L'Enfant Plan da cidade de Washington em março de 1792 e Ruas de Londres séc XIX

- no Modernismo há uma evolução da reação à cidade industrial. Utiliza-se a alta tecnologia construtiva, em favor do Homem, e há uma oposição estética às formas urbanas da cidade tradicional. Valoriza-se a vegetação, os edifícios são voltados para melhor insolação e ventilação, há uma flexibilidade em adaptar-se ao terreno devido ao emprego de pilotis. Prega-se o funcionalismo e a tecnologia é voltada para o conforto humano. Utiliza-se o veículo automotor em maior escala, e a cidade é setorizada. Idealiza-se a cidade-jardim e o bairro-jardim, e o controle territorial se dá na forma de unidades de vizinhança.