segunda-feira, agosto 29, 2011

QUASTÃO 3 - Os atuais conflitos de Londres


A atual revolta na Inglaterra (agosto de 2011) foi causada inicialmente pela morte de um homem chamado Mark Duggan, de 29 anos no bairro de Tottenham. Ele foi morto por policias que alegam que ele era um traficante de drogas e que ele reagiu a tiros à aproximação. Cerca de 300 manifestantes se reuniram para protestar contra a morte de Duggan. Mais tarde, o protesto ficou violento, com membros da comunidade entrando em choque com a polícia. 
Muitos sociólogos afirmam que a morte desse homem foi a gota d’água para o início do tumulto, pois a economia da Europa passa por um período difícil, o governo britânico está fazendo cortes em programas sociais para jovens de comunidades carentes, fechando serviços considerados não essenciais, alto índice de desemprego. Na opinião dos críticos, o plano de austeridade do Reino Unido está sacrificando vários setores da sociedade, o que amplia o sentimento de frustração e acaba servindo de gatilho para essas ações violentas. 
Por outro lado, alguns analistas parecem concordar com a postura do governo inglês, com a leitura de que não há conteúdo político por trás dessa revolta. “Podem existir causas políticas e econômicas, mas não é possível dizer que se trata de uma revolta política”, diz Carina O’Reilly, analista de segurança européia da IHS Jane’s. “São ações criminosas. Você tem pessoas jovens (em alguns casos, muito jovens) que estão revoltadas e vivem na pobreza, e que parecem ter descoberto que podem fazer essas coisas e escapar de punição”.
Conversando com um amigo francês sobre esses acontecimentos na Inglaterra e ele se diz que muitos desses manifestantes nem sabem o porquê de estarem ali, querem apenas participar do tumulto. Ele questiona o local dessa revolta, que aconteceu em uma área pobre da cidade. Eles queimaram carros, prédios, saquearam lojas; se o real motivo do protesto é a insatisfação com o governo, porque a área de atuação não é aos redores dos prédios governamentais ou nas áreas ricas da cidade?
Já, pelo lado dos manifestantes, um dos participantes dos distúrbios, entrevistado por uma rede britânica de TV, garantiu que as ações violentas eram necessárias. “Se não estivéssemos fazendo uma revolta, vocês não estariam aqui me ouvindo, não é? Dois meses atrás, nós marchamos até a Scotland Yard, mais de duas mil pessoas, todas vestidas de preto, tudo calmo e pacífico e quer saber? Nem uma palavra na imprensa. Na noite passada, bastou um pouco de revolta e saques, e agora olhem ao seu redor”.
“Na base de todos esses incidentes, há um sentimento de descontentamento profundo, em especial entre os mais jovens”, reforça Louise Taggart, analista de conjuntura europeia da agência britânica de consultoria AKE. “São os jovens quem têm a energia para ir às ruas e se revoltar, não apenas no Reino Unido, mas em todo o mundo. Se as autoridades não encararem os problemas por trás de tudo que está acontecendo, temo que estejamos prestes a ver muito mais”.

“o inferno é uma cidade semelhante a Londres, uma cidade esfumaçada e populosa.
Existe aí todo tipo de pessoas arruinadas e pouca diversa, ou melhor, nenhuma,
e muito pouca justiça e menos ainda compaixão”.
Londres e Paris no Século XIX. Pág. 22

Em seu livro Londres e Paris no Século XIX, Maria Stella detalha muito prontamente o lugar e a vida das comunidades que ali viviam. Hoje ao atentarmos para os acontecimentos é possível percebermos que mesmo com o passar dos anos os conflitos se mantêm como uma panela de pressão.
A contradição social é muito grande e vem se alongando desde 1840/60. Áreas ricas com suas mansões e madames num eterno desfile se entrecruzam com as áreas pobres onde se concentravam as classes operárias. Lugar este de más condições de moradias e infra-estrutura, com superpopulação.
Em 1860 rapazes de 16 a 19 anos e pouco desenvolvido, furiosos e improdutivos s se diziam discriminados, dinâmica dispendiosa e perigosa para a noção, também como o ocorrido na década de 80 e em 08/08/11.
A opressão e a omissão muitas vezes geram reações inimagináveis. Londres é uma cidade que “cheira velhice”, a velha cidade, as antigas arquiteturas, ... É o lugar onde os jovens se deparam com um script, quase uma cartilha dizendo o que ele será, o que ele fará, o que acontecerá em sua vida. Eles são verdadeiros solitários na multidão.

“Viver numa grande cidade implica o reconhecimento de múltiplos sinais”
Bresciani, Maria Stella. Pág. 16

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