terça-feira, agosto 30, 2011

Arquitetura, Urbanismo e Função

“Nenhuma grande cidade brasileira escapa a esse destino de exclusão, segregação e degradação ambiental”
(Ermínia Maricato)
“Diferente de uma cidade onde todos se encontram, acreditamos vivenciar um momento da atualidade onde as relações sociais são amplamente diferenciadas, extremamente direcionadas e recriadas, muitas vezes em novos conteúdos. (Cíntia P. Santos – Pós graduanda UNESP)
“O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem.” ( Deboard)
A muito a arquitetura se desligou da sua função de abrigo para se atrelar ao status, resultado do processo de valorização do capital levando à sociedade do consumo. Tanto que hoje vivemos numa casa “velha” que persiste desde o início do século XX. Mesmo que “nós” não sejamos mais o mesmo e tenhamos feito do quarto o escritório e sala de TV. E não precisemos de muitos dos espaços que ocupamos mantemos o espaço não por sua importância física, mas pela aparência que a grandiosidade projeta no próximo.
Tudo pode ser comprado, tudo pode ser vendido. Somos filhos de uma sociedade de privatizações. Os direitos estão escassos e se paga pela segurança, pelo espaço (não mais público) e se abdica do direito de ir e vir.
A cidade é o espaço para a disputa de classes pela propriedade, poder político e poder econômico. Onde prevalece a lógica da mercadoria.
Uma, pseudo, coletividade camufla conjuntos isolados em que boa parte não faz questão de deixar de ser isolado.
Queremos ser a “família Doriana” (estereótipo de como toda família perfeita deve ser). E é isso que é vendido e não o “abrigo”.
O consumo está tão atrelado à arquitetura que muitas vezes o Marketing custa mais que um projeto. Numa lógica racionalista de baixo custo e qualidade em grande quantidade como vemos em vários prédios de qualidade estética duvidosa.
Mas o produto arquitetura tem a melhor “marca” que é um modelo que vende o combo: casa + segurança + ”total living environment”+ sauna + quadra.... Uma idealização mítica.
A especificidade desta segregação se pauta no fato que o “enclausuramento” é voluntário e há recursos a barreiras físico-arquitetônicas.
“o fato de os condomínios fechados constituírem um produto imobiliário que, no contexto da globalização, pode chegar a qualquer parte do mundo. De fato, deve notar-se a importância da atual disponibilidade global de uma fórmula comercial passível de ser localizada pelo mundo a fora, mesmo que de diferentes formas” (Rita Raposo)
Essa arquitetura enlatada relata a fraqueza do estado perante uma sociedade privada. Que pode oferecer muito mais que o “poder” publico.
Como pode ser notado na região metropolitana sul de Belo Horizonte. Os condomínios horizontais fechados acabam por valorizar a região. O que leva a elevar o custo das mercadorias e encarecer os bairros mais próximos, mesmo que este não tenha nenhum atrativo em si. Em bairros como Belvedere chega a estratégias para contornar a lei e erguer edifícios com andares bem além dos estabelecidos. Mesmo que essas medidas tenham causado dados climáticos para toda uma população.
Talvez o urbanismo como “instrumento de regulamentação e administração do especo construído” tenha seus favoritos.
Qualquer estudante medíocre de arquitetura tem consciência que o espaço melhor para criar e no plano, que em um grande terreno plano se poderá aproveitar muito melhor suas áreas de lazer, mas aqui o status de zona sul se sobrepõe tanto a lógica que se opta por construir em terrenos que além de muito íngremes têm um solo que oferece riscos a construção.
A alienação é tanta que hoje pessoas se chocam ao verem imagens da pobreza na África, sendo que a pobreza mora ao lado, porem por aqui os muros tampam.
“...interpretação sociológica possível: a primeira respeita ao tema da segregação; a segunda refere-se à componente simbólica da produção, comercialização e consumo de condomínios fechados. Em conjunto, os dois elementos que estas teses destacam conferem ao fenômeno um caráter socialmente distintivo, específico e singular . Ambos respeitam à separação ou à instituição da distância em relação a realidade social “externa”, uma realidade que não respeita apenas a outros grupos sociais, mas que é mais vasta,e que é tanto objetiva como subjetiva. Os condomínios fechados, com uma forma espacial e física separada, clausurada e introvertida, uma população “nivelada” pelo rendimento, e a construção simbólica de um novo habitat, trazem a instituição espacial de várias distâncias sociais - práticas simbólicas."

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